• conimbrigaPR1 Rota de Conimbriga
  • Chegamos ao início do nosso trilho: Rota de Conímbriga.
  • Depois de percorremos uma distancia de 305116,36 pés, ou 57.787 milhas ou ainda 93 quilómetros, utilizando a definição de milha terrestre, definida pelo sistema imperial de medidas como o equivalente a 1609,344 metros e ainda a atual definição como sendo 5280 pés ao invés de 5000 do século XIII. A primeira vez que o termo milha foi usado para denotar distância foi na Roma Antiga, onde valia 1000 passos (do latim, mille passus) dados pelo Centurião, ou 5000 pés romanos. Essas medidas não eram precisas, visto que dependia do tamanho das pernas do centurião, pois uma mínima diferença na passada resultava em uma grande diferença ao final dos 1000 passos. Em registos históricos, a milha romana variava entre 1401 e 1580 metros, aproximadamente. Todos estes cálculos até podem passar-nos ao lado e não damos importância alguma. Esta é uma das muitas heranças que os romanos nos deixaram.
  • A romanização foi, pois, iniciada no século I a. C., no tempo de Augusto. Esta foi um processo de aculturação lento que durou seis a sete séculos, no qual as estruturas económicas, sociais, política e culturais autóctones se transformaram, construindo as raízes do Portugal de hoje. O latim, o Direito, a organização militar e administrativa, o calendário, os padrões de pesos e medidas...são algumas das heranças romanas. Para além disso, os Romanos fundaram cidades completamente novas, tais como Civitas Igaeditanorum (Idanha-a-Velha) e Bracara Augusta (Braga); renovaram outras já existentes, como Olisipo (Lisboa), Mirtylis Iulia (Mértola), Scalabis (Santarém) e Sellium (Tomar); lançaram as bases de uma agricultura nova, de planície, mercantilizada; exploraram minas e pedreiras; rasgaram estradas e construirão pontes e aquedutos...
  • Hoje quando o meu olhar incrédulo fixava-se, no amontoado de pedras inertes no chão, sentia que esta herança também me pertencia, visto eu ser descendente de um povo que foi colonizado, escravizado e abandonado.
  • Naquele sábado eu estava diante de uma cidade que os romanos renovaram, visto já antes ali existir uma fortificação ou povoação celta, como temos na toponímia de Conímbriga cujo sufixo “briga” é de origem celta. Muitos estudiosos pretendem que a primitiva ocupação humana de seu sítio remonte a um castro de origem Celta da tribo dos Lusitanos . O que se sabe ao certo, entretanto, é que a campanha de escavações de 1913, encontrou testemunhos da Idade do Ferro, a eles podendo juntar-se peças de pedra e bronze que podem fazer recuar o início da povoação do local. E, nesse caso teríamos que relacionar o povo cônios, o que para muitos explica a origem do topónimo atual de Coimbra (Aeminium), com a cultura megalítica da região sul de Portugal. Os cónios (do latim, Conii), foram os habitantes das atuais regiões do Algarve e Baixo Alentejo, no sul de Portugal, em data anterior ao séc. VIII a.C., até serem integrados na Província Romana da Lusitânia. Conímbriga foi à época da Invasão romana da Península Ibérica a principal cidade do Conventus Scallabitanus , província romana da Lusitânia. Os cónios inicialmente foram aliados dos Romanos quando estes últimos pretendiam dominar a Península Ibérica. Os cónios aparecem pela primeira vez na história pela mão do historiador grego Heródoto no séc. V a.c., e mais tarde referidos por Rufo Avieno , na sua obra Ode Maritima, como vizinhos dos cempsios ao sul do do rio Tejo e dos sefes a norte. Antes do séc. VIII a.C., a zona de influência cónia, segundo estudo de caracterização paleontológico da região, abrangeria muito para além do sul de Portugal. Com efeito, o referido estudo baseando-se em textos da antiguidade greco-romana bem como na toponímia de Coimbra del Barranco, em Múrcia, Espanha, e de Conímbriga, propõe que os cónios ocuparam uma região desde o centro de Portugal até ao Algarve e todo o sul de Espanha até Múrcia. Em abono desta tese podemos acrescentar o Alto de Conio, e o pico de Conio no município de Ronda, na região autónoma da Andaluzia.
  • Se eu pudesse construir uma máquina do tempo e nela viajar, talvez conseguisse dissipar as duvidas dos historiadores e até mesmo retificar alguns erros.
  • Desde o meu tempo de escola que não visitava Conímbriga e passados tantos anos a minha memória vazia ia-se preenchendo com vagas recordações. A minha estranheza sobressaía entre a familiaridade dos restantes objetos que me lembrava da filatelia e dos manuais da história da arte. O coração palpitava, sôfrego, numa vã tentativa de me abandonar encaminhando-se para o passado distante. Mal conseguia, disfarçar o turbilhão de sentimentos que já se abatiam sobre mim.
  • Antes mesmo de me embrenhar mais na história desta civita romana, há uma outra história para contar.
  • Era tempo de partir, só então, tomei consciência do grupo que me rodeava. Numa pressa, o olhar desviou-se, para os caminhantes que já se tinham posto em marcha.
  • No ar, uma brisa invulgarmente fria, envolvia toda a manhã. O céu, receoso, encobria-se, aqui e ali, com leves retalhos de puro algodão doce que lentamente se dissolvia num firmamento azul. Antecipava timidamente, e sem pressa, a primavera, que se aproximava a passos largos. Em breve tudo ia estar pincelado de ricos matizes verdes numa paleta bordeada de montanhas recortadas no silencioso azul celeste. Um subtil vento do norte, vivo e frio rodopiava pelos caminhos desprotegidos, chocando nas faces ainda mornas pelos parcos raios de sol.
  • A paisagem traz-me a, memoria o passado trilho da Fornea não muito longe dali, que por algum tempo os aromas impregnaram as minhas narinas. O clima seco está sujeito, com menor ou maior intensidade, a fogos florestais e desta forma muitas das espécies botânicas existentes estão dotadas de características que lhes permitem sobreviver mais adequadamente criando uma paisagem de grande interesse florístico, predominando, em termos de vegetação espontânea, áreas arbustivas de carrasco e subarbustivas de alecrim (Rosmarinus officinalis). É certo que o alecrim é a planta rainha nestas paragens, ainda bem porque o seu aroma convida a voltar.
  • Continuamos a subir lentamente este pequeno trilho. Finda a íngreme subida, e cota mais elevada do nosso trilho descansamos. A ocasião era propícia a fazermos uma pausa para o almoço. Mas assim não aconteceu. Houve algumas almas que tinham pressa de chegar ao fim. Como sempre, passados alguns minutos e algumas centenas de metros mais abaixo estavam agarrados a bucha, que devorávamos com satisfação. Uns momentos de confraternização e alegria é parte integrante deste almoço volante.
  • Somos caminheiros e isso faz de nós nómadas que buscam novas paragens, encantos diferentes e novas sensações. Desta forma partimos uma vez mais, para o conhecimento. É uma sensação estranha e ao mesmo tempo fantástica.
  • Penso que até naquilo em que acredito morre. Tudo muda. As histórias são só histórias dentro da história, e amanhã fica o que de bom existiu. A verdade está à vossa volta, basta olhar para ela. Retomamos o nosso trilho. O dia está luminoso, belo e cheio de esperança. Não muito longe do local onde almoçamos, ficava o ponto final do nosso trilho. Assim regressávamos ao ponto de partida uma vez que o nosso trilho era circular. Ao fim de 25586 pés ou 4.846 milhas ou ainda 7800 metros. As baixinhas dão mais passos.
  • Diante do museu monografico de Conímbriga, reunimo-nos e partimos em direção as ruínas de Conímbriga e assim desvendarmos um pouco mais da sua história e da nossa história.
  • Foi no limiar da era cristã que se constituiu o Portugal romano. Os Romanos chegaram ao Oriente da Península Ibérica por volta de 218 a. C., para combater os Cartagineses. Durante as Guerras Púnicas, iniciando desde ai a conquista do território. Na faixa ocidental, que corresponde hoje ao território português, existiam, a época. Povoações castrejas habitadas pelos Gallacci (Galaicos), a norte do Douro, túrdulos, no litoral, e por Celtas e Iberos , a sul do Tejo. Estes povos reagiram diferentemente a chegada dos Romanos: o Sul foi a primeira região a ser conquistada, sendo ai que a presença romana foi mais forte e estável; os povos do Norte opuseram maior resistência aos novos colonizadores, nomeadamente no caso dos Lusitanos, tribo instalada na região da Serra da Estrela, entre o Mondego e o Tejo. São conhecidas, e documentadas por Estrabao, as campanhas de Olisipo (Lisboa) e Maron efetuadas por Decimo Junio Bruto, em 138 a. C. Só em 61 a. C. Júlio César conseguiu o controlo total da zona noroeste da Península Ibérica.
  • Conquistado o território há necessidade de o povoar, como forma de o proteger e criar condições de alimentar as legiões. Com a estabilidade garantida e a paz surgem os primeiros patrícios a estabelecer-se nos territórios e dai ao surgimento de villae (casas rurais) e civitates (equivalente a cidadania "cidades").
  • Como anteriormente disso o caso de Conímbriga não obedece a mesma clareza do das cidades romanas planeadas e construídas de raiz porque estava condicionada pelas construções pré-romanas e pela morfologia do terreno. Mas, obedece ao urbanismo romano, que combina influências helenísticas e mediterrânicas, do espaço hipodamico, com o pragmatismo romano, que lhes advêm da organização militar, aliadas, por fim, as normas vitruvianas que são contemporâneas da romanização em Portugal. Estas regras incidem sobretudo, na escolha dos locais apropriados a cada construção. O urbanismo romano foi aplicado nas chamadas civitates — unidades político-administrativas resultantes da divisão do território em províncias. Em cada uma destas civitates, havia um forum, no ponto central, que era ao mesmo tempo o centro religioso, político-administrativo, da justiça e do comércio. Em Portugal o exemplo que melhor documenta esta organização urbanística é o da cidade de Conímbriga. Apesar das muralhas construídas e das mutilações sofridas aquando da invasão dos suevos, no mesmo local ergueram-se dois forum : o primeiro, o de augusto, datado de 10 a. C., foi substituído, mais tarde, por outro, o dos flavios, de 70 ou 80 d. C. O forum de Augusto possuía templo, basílica, cúria, tabernae e comercio; o dos flavios não tinha nem basílica nem cúria, ordenando-se em função do templo.
  • Em Conímbriga, os templos situavam-se na parte mas alta do forum, sobre um criptopórtico, e eram divididos em pronaos e cellae .
  • Elevam-se sobre um podium e possuíam colunas com capitéis coríntios .
  • Só com este povo podemos falar, verdadeiramente, de arquitetura e planeamento arquitetónico hoje chamado de urbanismo. Os Romanos foram os únicos a introduzir uma técnica de construção que originou novas formas, em particular na arquitetura monumental, pública e doméstica.
  • Espalhadas um pouco pelo nosso território existem também vestígios de termas, públicas e privadas, com as mesmas funções das romanas. Entre as primeiras, destacam-se as de Conímbriga, Miróbriga. Bracara e Ebora. Para além das termas enquanto banhos públicos, os Romanos souberam igualmente explorar as águas com propriedades medicinais, segundo o sentido que hoje damos a palavra “termas” . Estão neste caso as estâncias termais de Chaves, São Pedro do Sul, Taipas e Vizela.
  • Por todo o território foram também construídos aquedutos e pontes, integrados nas redes viárias e como infraestruturas implantando-as do modo de vida romano, Entre os aquedutos, salientamos os de Conímbriga e Alcabideche; entre as pontes, notáveis pela sua solidez e durabilidade, as de Chaves e Ponte de Lima.
  • Embora saibamos que existiram em todas as civitates, a maior parte dos teatros, anfiteatros e circos construídos no território português encontram-se em mau estado, apenas descobertos e pouco estudados. Tal e o caso dos anfiteatros de Conímbriga e Bobadela e do circo de Miróbriga.
  • A arquitetura doméstica deixou vestígios nas domus, em prédios urbanos do tipo insulae e nas villae rusticas, abundantes principal mente no Sul, ligadas as grandes propriedades fundiárias. As domus e insulae (insula = quarteirão ou bairro organizado) mais bem estudadas são as de Conímbriga, embora existam outras noutros locais. As primeiras, caso da Casa Cantober e da Casa dos Repuxos — seguem os modelos romanos, organizando-se em torno de um peristilo, que constituía o centro da casa. As segundas — como as insulas Poter Emmonue e Andercus ordenam-se a volta de um pátio central, comum, e elevam-se a altura de dois andares. Os elementos decorativos que revestiram as paredes e o chão das construções romanas desapareceram, em grande parte devido a utilização posterior desses espaços. Conímbriga constitui exceção, porque ficou desabitada. A pintura mural é a mais rara pela sua fragilidade. Alguns vestígios encontram-se em Miróbriga, Conímbriga e Troia, que, de qualquer modo, revelam o vocabulário típico da pintura romana.
  • Conímbriga na época de Augusto, a povoação cresceu extraordinariamente, duplicando a sua área urbana, e estruturou-se como cidade romana, transformada em município. Como cidade romana. Conímbriga foi recebendo o ‘equipamento” urbano das outras cidades do Império: forum, termas, anfiteatro, aqueduto...
  • Situada numa boa zona agrícola e atravessada pela via romana que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga), depressa a cidade se transformou numa praça privilegiada para a prática do comércio, acolhendo ricos comerciantes locais e até estrangeiros (há noticia do estabelecimento na cidade de comerciantes fenícios). Esta procura traduziu-se na construção de belas e ricas domus (casa abastada) e villae, algumas situadas já fora do perímetro urbano.
  • A decadência da cidade iniciou-se com a chegada dos povos bárbaros, cujas investidas obrigaram as autoridades a erguer as primeiras muralhas, ainda no século III. No século V, as invasões suevas danificaram grandemente a cidade, destruindo muitas das suas infraestruturas, o que levou a população a abandonar o local.
  • Se pudesse viajar na máquina do tempo e visitar Conímbriga alguns dias antes das investidas barbaras a cidade, a confusão e o ruído dominavam com certeza aquele espaço. Assim podia descrever desta maneira: Havia homens em pé em carroças a carregar cascos de vinho, sacas de farinha, enjaulando aves e porcos que acamavam nas carroças. Ferreiros endireitavam espadas, removiam amolgadelas e ferravam tanto corcéis como mulas de carga. Os patrícios e os servos aglomeravam-se juntos na cripta para rezar. Fora das muralhas, tendas e pavilhões eram desmontados. Escudeiros atiravam selhas de água para fogueiras, enquanto soldados puxavam pelas pedras a fim de dar às suas lâminas uma última e boa amoladela. O ruído era uma maré enchente: cavalos a resfolegar e a relinchar, centuriões a gritar ordens, soldados e homens de armas a trocar pragas, e mulheres a discutir.
  • Alguns dias depois o céu enchia-se de fumo negro que ainda saia do que restava e continuava de pé. Muralha de pedra estava desmoronando, mas a sua visão fazia os cabelos da nuca ficarem em pé. Os portões estavam quebrados e metade da cidade havia sido queimada.
  • A cidade estava desolada, um lugar cruel com ruas vazias e casas queimadas.
  • Caída em ruína, Conímbriga ficou esquecida no tempo até 1899 altura em que a secção de arqueologia do Instituto Histórico de Coimbra se interessou pelo local, efetuando ai um primeiro levantamento arqueológico. Contudo, apenas na década de 60 do século XX arrancou o projeto atual criando-se o Museu Monográfico (1962) iniciando-se ações continuadas de escavação e preservação.
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  • Agora já nenhumas legiões atravessam os portões da fortaleza a fim de pernoitar e no dia seguinte seguir a estrada romana em direção a Olisipo. Os Romanos construíram fortificações maciças para protegerem o império, quer sob a forma de sólidas muralhas que rodeavam as cidades, quer sob a forma de fortalezas para darem apoia as suas legiões.
  • Uma vez mais parto. Parto, não desta vez em direção ao passado, mas em direção ao legado de um passado vivo: a cidade de Coimbra.
  • Esta Coimbra que inspira poetas e cantores. A grande diva do Fado Amália expressava-se desta maneira: Coimbra é uma lição e aprende-se a dizer saudade. O livro é uma mulher (gostava de folhear esse livro) e que Coimbra é a capital do amor em Portugal. A história dessa Inês tão linda se fez com lágrimas e existe uma fonte dos amores. (alguém sabe onde fica essa fonte, tenho sede).
  • Pedro e Inês são sem dúvida os protagonistas de uma das mais belas histórias de amor em Portugal.
  • Inês de Castro vivia na Corte com a senhora Dona Constança e D. Pedro , usufruindo os lazeres do dia-a-dia, a leitura, a música, as cabriolas do bobo, como convinha à gente de sangue nobre.
  • Os encantos de seu corpo, todavia, de que a Natureza com primor a dotara, fizeram-na atrair os olhares do Príncipe que não tardou a mostrar por ela uma preferência de simpatia e afeição. De olhos brilhantes, rosto prendado, de cabeleira abundante a cair sobre os ombros, de tronco roliço torneado pelo corpete de linho a mostrar o tronco generoso de encantos, a figura esguia de moça trigueira lembrava, no porte sereno e andar suave, em airoso traje pelos jardins do paço, uma garça de ternura e elegância. A formosura de Inês atraiu D. Pedro. A convivência com tão bela mulher em pouco tempo ateou o coração do Infante o amor e a paixão que não podia disfarçar.
  • Por altura da morte de Dona Constança, andava o rei Afonso IV em grande questão com o bispo do Porto. Na verdade, o monarca submetera a cidade à sua jurisdição e o bispo lançou o interdito sobre a diocese. Este era um problema entre outros a resolver.
  • A questão dos amores entre D. Pedro e Dona Inês preocupava o velho soberano, mais que tudo.
  • Resolveu encontrar uma solução para o caso e obrigou a amante do filho a exilar-se para a terra de Albuquerque, na região da raia entre Castela e Portugal.
  • De facto, não separou os apaixonados que comunicavam entre si por cartas levadas e trazidas secretamente. Quem fazia o serviço de correio, para iludir melhor a vigilância dos ricos-homens, eram os almocreves que transportavam mercadorias de cidade para cidade, atravessando coutos e concelhos, segundo ordem dos burgueses seus patrões. Os almocreves levavam consigo as cartas de D. Pedro para Inês. Foi assim que o amor de Pedro e Inês, longe de perturbar-se ou amortecer, se tornou mais sólido e capaz de superar quaisquer obstáculos e adversidades.
  • Ninguém podia suster a força do amor que unia, de modo irresistível, o Príncipe à mulher de sua paixão. Era, de facto, tão ardente e tão profundo o sentimento do casal enamorado que D. Pedro, contra ordem de seu pai, mandou vir Dona Inês para Coimbra. Acabava, assim, o desterro em Albuquerque e começava uma nova fase da vida para os dois, finalmente juntos.
  • A existência de D. Pedro e da linda Inês era imensamente feliz. Habitavam em Santa Clara, na margem esquerda do rio Mondego.
  • Ora acontecia que os conselheiros da Corte diziam e repetiam ao senhor D. Afonso IV que havia um grande perigo para a Coroa e para o futuro próximo do País se a Dona Inês viesse a ser rainha. Efetivamente, ela pertencia à nobre família dos Castros, de fidalguia ambiciosa, que não desistia de pretensões ao Trono Castelhano. Poderia muito bem dar-se o caso de um filho de Dona Inês vir a ser rei, ainda que para tal fosse preciso matar o legítimo herdeiro do Reino...
  • E não era difícil imaginar que essa nobreza poderosa pudesse subir ao Poder nos dois Estados Ibéricos, pondo fim à Independência da Pátria Portuguesa.
  • D. Afonso IV ouvia e ficava inquieto, sem saber o que havia de decidir. Chegou a pensar em reunir as Cortes para que lhe dessem opinião prudente. Tremia só de prever que, em tempos vindouros, os seus netos iriam lutar a ferro e fogo pela posse do Trono de seu avô.
  • Os primeiros tempos do ano de 1355 iam testemunhar uma tragédia de sangue. O príncipe D. Pedro nem presumia o que estava para acontecer quando se despediu da sua querida Inês e seus filhos para iniciar a caça de montaria pelos montes e florestas da Beira, a cavalo, com nobres amigos e escudeiros.
  • Por aqueles dias, D. Afonso IV subiu a Montemor-o-Velho com o seu séquito e ali reuniu os seus conselheiros de Estado, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, para tomar uma decisão sobre o destino da vida de Inês de Castro. Os argumentos que ouviu não o convenceram mas conseguiram, de facto, que a hesitação vencesse finalmente e entregasse a sorte da amante de D. Pedro nas mãos dos que a queriam ver morta.
  • No dia 7 de janeiro, ao cair da noite, Inês de Castro foi surpreendida pela chegada dos reis e dos conselheiros. Não houve lágrimas nem gemidos de crianças inocentes que impedissem a execução da vítima.
  • Quando o luar brilhou no firmamento, veio encontrar a pobre Inês sem vida, degolada friamente pelo machado do carrasco. Nunca, na história de Portugal, houve ou haveria um crime de horror tão inclemente.
  • Ao tomar conhecimento da morte de Inês, o príncipe D. Pedro arrebatou de cólera e raiva. O seu temperamento intempestivo reagiu com a ferocidade de um tigre ferido. Chamou às armas nobreza e povo de sua confiança, levantou Trás-os-Montes e Douro pela sua causa e desafiou o rei, seu pai, para uma guerra. Felizmente, a intervenção da rainha D. Beatriz conseguiu evitar o pior e levou os contendores à Paz de Canavezes, nos arredores do Porto. As promessas que fez de perdão aos seus inimigos, depressa as esqueceu D. Pedro quando subiu ao Trono, no ano de 1357.
  • O ódio que tinha aos conselheiros atirou-os para o calabouço da prisão; escapou, por sorte, Diogo Lopes Pacheco, que fugiu a tempo para terra de França.
  • A vingança foi consumada nos paços de Santarém. D. Pedro mandou amarrar as vítimas, cada uma a seu poste de suplício, enquanto os cozinheiros de sua Corte preparavam um lauto banquete de cerimónia. O rei não poupou requintes de horror no castigo implacável. Mandou o carrasco tirar a um o coração pelas costas e ao outro o coração pelo peito. Por fim, como sentisse que não bastava a tortura tremenda, ainda teve coragem para trincar aqueles corações que, para ele, seriam malditos para sempre.
  • Cinco anos depois da morte de Inês de Castro, o rei D. Pedro afirmou solenemente na vila de Cantanhede, distrito de Coimbra, que, de facto, se casara com sua amada, clandestinamente, na cidade de Bragança. Logo, nesse ano de 1360, mandou construir, na igreja do mosteiro de Alcobaça, dois túmulos sumptuosos, um para Inês e outro para ele, quando a morte o levasse. Nunca mais o monarca amargurado teve companhia que lhe fizesse esquecer o grande amor da sua vida. Muitas vezes aconteceu que, nem de noite, tinha repouso tranquilo. Os pesadelos perturbavam-lhe o sono e o rei, para esquecer, saía para as ruas de Lisboa, acordava o povo ao redor, ateava fogueiras para a festa e dançava com ele até madrugada. Amiúde mandava matar bois e bezerros, distribuía carne aos pobres e necessitados, com um coração generoso que as gentes da capital e do Reino admiravam e amavam; não só porque era pródigo em dar de comer a quem tinha fome, mas também porque sempre soube fazer justiça, dar prémios aos bons e castigo aos maus. O povo não esqueceria nunca o soberano e diria, de geração em geração, que dez anos como aqueles que reinou D. Pedro nunca houve em Portugal.
  • O senhor D. Pedro resolveu fazer a homenagem merecida a Dona Inês, rainha de Portugal. Ordenou então, a transladação dos restos mortais de Coimbra para o túmulo de Alcobaça. Foi um cortejo fúnebre de imponência nunca vista; pela estrada fora, por entre povo do campo que vinha chorar à berma do caminho, seguia a multidão de gente, com círios acesos, a melhor fidalguia do Reino, senhores e senhoras, a cavalgar corcéis, a passo solene, membros do clero e burgueses, todos em traje de pesar doloroso. Ao longo da viagem, a perda da rainha foi pranteada por grupos de carpideiras que soltavam gritos lancinantes e entoavam melodias plangentes; viam-se homens com cinza na cabeça, de cabelos rapados e sem barba, na expressão pública do luto. Escudeiros vestidos de estamenha crua transportavam a urna com o ataúde de Inês, carregando aos ombros os varais escuros, precedidos de alferes com pendões abatidos. Na frente do préstimo, um franciscano segurava uma enorme cruz de pinho. No transepto da igreja de Alcobaça, D. Pedro disse o último adeus à esposa. Nunca houvera paixão assim! Até nasceu a lenda de que o rei se desvairou a ponto de fazer coroar Inês, depois de morta, e obrigar a nobreza a beijar-lhe a mão de rainha.
  • A história de amor de Pedro e Inês de Castro ainda hoje continua comover quem a conhece. Era uma vez um príncipe - Pedro - filho do Rei Afonso IV de Portugal. O seu pai obriga-o a casar com uma princesa espanhola, Dona Constância. Entre as aias que trouxe para Portugal, vinha uma jovem lindíssima - Inês de Castro. Pedro não tardou a apaixonar-se por Inês. D. Afonso IV acabou por expulsar Inês de Portugal, mas isto não impediu que os dois amantes se encontrassem, tendo nascido deste amor proibido duas belas crianças. Estando Inês na Quinta da Lágrimas, em Coimbra, o Rei mandou-a matar, assim como aos seus filhos. Pedro mal soube do sucedido, declarou guerra ao pai. Após a morte deste, Pedro ascendeu ao trono de Portugal. Haviam passado dois anos sobre a morte de Inês, mas Pedro não descansou. Mandou arrancar o coração aos seus carrascos, Inês foi desenterrada e Pedro casou-se com ela, fazendo-a coroar rainha de Portugal. Todos aqueles que a condenaram foram então obrigados a beijar as mãos de uma morta...mas rainha no amor que Pedro lhe tinha.
  • A cidade de Coimbra não esqueceu esse amor. Construiu uma ponte pedonal sobre o Rio Mondego em Coimbra com 275m de comprimento e 4m de largura. A particularidade dessa ponte é ser anti-simétrica em cada meia ponte relativamente ao seu eixo longitudinal. Como se pode imaginar a união de duas margens que se tocam no ponto mais elevado.
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  • Assim se passou um fantástico sábado, cheio de histórias e aventuras.
  • Até uma próxima.
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  • Juan Raphael Prado (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)
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