portasrodaoProjeto Especial Verão - 1º Dia

  • A melhor forma de realizar um sonho é despertar.
  • Paul Valéry
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  • Este projeto foi pensado para nos levar a caminhar através de algumas rotas, pelas entranhas da Cova da Beira, e melhorar os conhecimentos de quem já era privilegiado por eles ou dar novos horizontes a quem os desconhecia. A escolha caiu em rotas míticas, moldadas em paisagens que as fronteiras do tempo nos fizeram chegar num estado quase virgem. Viajar pelos pequenos mistérios e encantos do passado, que iam-se revelando a cada pegada que ia ficando gravada no caminho.
  • No dia 15 de agosto atravessamos essa fronteira do tempo. O projeto que havia sido pensado para dar asas a nossa imaginação, era nesse dia posto a prova. E que prova, meu Deus... As altas temperaturas dificultavam a concretização de algumas partes do programa. Seis Aldeias históricas completavam-se com Penha Garcia, um marco da evolução da vida na terra. É claro que outras houveram de nome não tão sonante, mas que fizeram parte deste nosso percurso pela Cova da Beira, que na devida altura falarei.
  • Toda esta nossa aventura decorre nos primeiros dias no Geopark Naturtejo. Espraiando-se por seis municípios, o Geopark alberga 16 geomonumentos e vários exemplos de património geológico e construído. No seu seio, espraiam-se também o Parque Natural do Tejo Internacional e três sítios da rede natura. Nestes dias fomos reviver apressadamente uma história com 600 milhões de anos. Após uma longa viagem é tempo para uma pequena paragem. Hoje, o território que tantas vezes foi conquistado, conquista-nos. Esta era a primeira de muitas paragens no Geopark. O ponto ideal para começar o nosso programa especial de verão 2014, é junto à ponte sobre o Rio Tejo em Vila Velha de Rodão.
  • Há muitos anos atrás e depois de percorrer alguns quilómetros em Portugal, o Rio Tejo depara-se com um importante acidente geológico. Uma barreira gigante de quartzíticos pré-históricos. Durante milhares de anos, as suas águas caiam em cascata. Com o passar dos anos o rio corre submisso, e entrincheirado. Lentamente e pachorrento vai escavando a rocha dura, ano após ano. Muito tempo depois, mais propriamente há 2,6 milhões de anos essa batalha é vencida, e o Tejo, passa a correr livremente no sentido do Atlântico. Aos dias de hoje chega-nos uma impressionante garganta, a mais importante que o rio atravessa em território português. Hoje, quando lançamos o olhar para o horizonte, surge o Monumento Natural das Portas de Ródão, assim batizado. O momento é rapidamente guardado na memória das máquinas fotográficas e confesso que já vi publicadas nas redes sociais fotos do momento de grande qualidade. Tal como foi referido no programa, hoje íamos ver as Portas de Ródão de jusante e montante. Estávamos agora a montante, local de onde se obtém uma boa perspetiva sobre as Portas de Ródão.
  • Atravessávamos o calor do verão naquela manhã de agosto. O sol impiedoso obrigava a recolhimento na sombra, mas a nossa viagem tinha que prosseguir. Deixamos para trás um rio que divide concelhos e distritos. O concelho de Vila Velha de Ródão no distrito de Castelo Branco é deixado para trás e embrenhamo-nos agora no concelho de Nisa distrito de Portalegre. Ainda na memória, deixando o pensamento voar na minha imaginação, com os 45 m de largura da imponente garganta escavada pelo rio nas cristas quartzíticas, já o autocarro percorria as afuniladas ruelas de Santana.
  • A aldeia estava em festa como muitas outras por onde passamos. Com certeza que os habitantes experientes e mais cautelosos que nós, faziam a festa quando estivesse mais fresco. Apeamo-nos junto a escola, local que marcava o início da nossa aventura e do Trilhos do Conhal do Arneiro. A pequena aldeia, habituada aos rigores do tempo, mantinha as cores claras e alegres no seu casario. O branco bordado a amarelo vivo, azul passando por uma gama de cores ocres emprestavam um colorido e graciosidade típica paisagem do Alentejo. Nas encostas as oliveiras eram rainhas e seus pajens curvavam-se como formações naturais, onde se destacam os zimbrais.
  • Iniciamos a nossa marcha e já tínhamos serpenteado um sem número de pequenas ruelas quando fomos regurgitados fora da aldeia e expostos ao rigor do clima. As labaredas infernais percorriam as minhas faces, deixando-as rubras de vergonha. Os pequenos movimentos queimavam a pele. Já no lugar do Arneiro, por onde a vista alcança eram visíveis enormes depósitos de conhos, escórias resultantes da extração de ouro a seu aberto. Este método forneceria ouro puro que não necessitava de qualquer tipo de tratamento.
  • Continuamos num caminho de terra batida, em direção ao Tejo, com as Portas de Ródão no horizonte. Aos poucos houve-se o chamamento do rio, o voo silencioso do abutre que espera uma refeição. Fomo-nos aproximando do imenso espelho de água, que refletia paz, e frescura.
  • De regresso a Santana, fomos visitar o café mais próximo que havia, para saciar a sede.
  • Estávamos a meio da tarde. Uma boa hora para, levantar ferro e zarpar. As condições do terreno e temperaturas debilitaram alguns caminheiros e foi necessário o autocarro colmatar essa lacuna. Já nos respetivos lugares partimos dali em direção a Castelo Branco.
  • Circulamos agora em direção ao Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco que se revela como um dos mais originais exemplares do Barroco em Portugal. Em especial no que respeita à estatuária: aos aspetos simbólicos e à disposição dos seus elementos em percursos temáticos.
  • Em 1911, o Jardim passa para as mãos da Câmara Municipal por arrendamento e em 1919 adquiri-o a título definitivo. Este jardim Barroco, em forma retangular, é dominado por balcões e varandas com guardas de ferro e balaústres de cantaria. Apresenta cinco lagos, com bordos trabalhados, nos quais estão instalados jogos de água. No patamar intermédio da Escadaria dos Reis existem repuxos e jogos de água surpreendentes. Por entre os canteiros de buxo erguem-se simbólicas estátuas de granito.
  • Instalados nos respetivos quartos e ainda com algum tempo até a hora do jantar, aproveitamos para conhecer as instalações do Hotel Tryp Colina do Castelo. Na minha opinião: adorei. Não tenho algo que lhe possa apontar. Alguns mas, poucos, aproveitaram para conhecer a piscina. Usufruir do espelho de água e jacuzzi foram alguns dos mimos que tivemos.
  • O hotel fica no cimo de uma colina e a seus pés espraia-se a cidade. Cresce como um manto branco. O casario cresce ao longo das modernas avenidas como se fossem veias que saem de um coração que é a colina. De um lado o hotel, do outro ligeiramente mais elevado, fica o castelo. É sem dúvida este que dá nome a Castelo Branco. O castelo sobranceiro a encosta une-se com um velho casario, que se estende até ao vale. Esta imagem traz-me a memória a Ordem dos Templários, pois este era o seu território. O Castelo de Castelo Branco foi edificado pela Ordem dos Templários, por volta do ano 1220, sendo que haviam recebido anteriormente estas terras de D. Afonso Henriques, depois da sua reconquista aos árabes e fundado aí a cidade de Castelo Branco. Após as invasões francesas, o período que se seguiu foi dramático para as fortificações da linha do Tejo, uma vez que os poderes públicos passaram a autorizar a população a retirar pedras das muralhas para a construção de habitações e de edifícios públicos. Olho pela janela do restaurante do Hotel, a noite lentamente vai sugando a luz do dia. A minha volta os risos e o som característico dos talheres na porcelana fina, faz-me regressar a realidade. É a hora do jantar. As mesas que nos tinham sido reservadas, estavam completas. O Sr. Comandante numa mesa ligeiramente mais afastada observava toda esta manifestação de alegria. Num vai e vem, íamos enchendo o prato, com aquilo que mais nos agradava. Sempre regados com um vinho da região e que os funcionários não se descuidavam em manter os copos cheios. Algumas horas bem passadas na melhor companhia.
  • Não estamos cá pelo conforto, mas sim pelo conhecimento. Castelo Branco, sofre nova invasão, desta vez pacífica. Um grupo de 33 caminheiros está disposto a conhecer a noite Albicastrense. Em grupo ou individualmente, fomos penetrando nas ruelas e becos desta cidade para mim desconhecida. A direção é só uma, descer para as entranhas desta cidade. Descobrir os seus mistérios, as suas gentes, os seus hábitos, quando o brilho dourado da luz artificial se reflete nos seus rostos. Aos poucos o grupo se volta a reunir, desta vez nas esplanadas.
  • Um dos bares situados na Praça que ladeia do Centro Cultura de Castelo Branco, foi o nosso anfitrião. Caipirinha, mojitos ou sangria de champanhe limparam o pó das gargantas e minimizaram a noite quente Albicastrense. O convívio continuou por algumas horas não muitas até porque no dia seguinte havia novas aventuras e novos territórios a conquistar.
  • Estava assim concluído o nosso primeiro dia deste projeto especial verá 2014.
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